terça-feira, 15 de novembro de 2011

A arte barroca no Brasil


Biblioteca do monastério de Metten, na Alemanha.
De Franz Holzinger (1691-1775).
 
A escultura barroca privilegia o movimento. As figuras deixam de ser representadas numa atitude de repouso para serem flagradas no meio de uma ação, num dinamismo ausente no Renascimento. As vestes que envolvem as personagens aparecem quase sempre agitadas pelo movimento dos corpos ou flutuantes, impelidas pelo vento.

 Daí a preferência por gestos bruscos, corpos torcidos, que melhor se prestam a essa representação dinâmica.

A arte barroca estendeu-se por todo o século XVII e pelas primeiras décadas do XVIII.
Surgiu em Roma e depois espalhou-se aos poucos por toda a Europa e a América Latina, assumindo características diversas ao longo do tempo.


O barroco nasceu e se desenvolveu em princípios do século XVII na Roma dos papas. Mais que um estilo artístico, era um estilo de vida. É profundamente católico e foi usado como forma de expressão da mensagem religiosa da Contra-Reforma.
 

Principais artistas

 Na Europa, devemos destacar o arquiteto e escultor italiano Bernini, responsável pelo replanejamento da praça de São Pedro, no Vaticano, e pelas várias praças e fontes de Roma que, ainda hoje, dão um ar barroco à cidade.

 Na pintura, ressalvando-se as grandes diferenças de estilo que há entre os pintores, podemos destacar Caravaggio, Carracci, El Greco, Rubens, Velázquez, Rembrandt, Zurbarán, Vermeer entre outros.
 

A palavra "barroco"

 A exuberância da arte barroca foi considerada de mau gosto pelos neoclássicos do século XVIII. E foi, aproximadamente, a partir de 1750 que a palavra barroco passou a ter sentido pejorativo, designando uma arte extravagante.

O verdadeiro significado da palavra barroco, aliás, ainda não foi totalmente esclarecido.

Era usada na ourivesaria para designar um certo tipo de pérola irregular.
Mas era usada também para descrever as linhas curvas dos móveis e a dissolução dos contornos firmes na pintura.

De qualquer forma, o sentido pejorativo acabou se fixando e foi só por volta de 1850 que a arte barroca começou a ser revalorizada.
 

 A pintura

 Uma característica marcante da pintura barroca é o efeito de ilusão buscado pelos artistas.
Isso se manifesta claramente nas pinturas feitas em tetos e paredes de igrejas ou palácios.

Os artistas pintam cenas e elementos arquitetônicos (colunas, escadas, balcões, degraus) que dão uma incrível ilusão de movimento e ampliação de espaço,chegando, em alguns casos, a dar a impressão de que a pintura é a realidade e a parede, de fato, não existe.

Um bom exemplo brasileiro desse ilusionismo é o teto pintado por Manuel da Costa Ataíde na igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.


   DSC00069_interior_Igreja de S_o Francisco de Assis_Foto Eduardo Tropia.jpg



Teto da Igreja de São Francisco de Assis,
(Ouro Preto - MG), obra-prima do pintor
Manuel da Costa Ataíde (1762-1837).

 
Outra característica da pintura barroca é a exploração do jogo de luz e sombra,
como se pode observar, por exemplo, na obra do pintor italiano Caravaggio,
que teve vários seguidores, dentro e fora da Itália.

 
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Martírio de S. Mateus de Caravaggio (1573-1610).
Igreja de S. Luís dos Franceses, em Roma

A ultima ceia, de Manoel da Costa Ataíde

 Arquitetura e escultura


Na arquitetura barroca, o emprego freqüente da coluna sinuosa é uma forma de romper com a rigidez das linhas retas da arquitetura renascentista, inspirada na antiguidade grega e romana.

Interior da Basílica do Senhor de Bom Jesus, (Ouro Preto - MG)

Mais do que a estrutura, porém, o que o artista barroco buscava era o embelezamento de portas e janelas e a ornamentação dos interiores.

Colunas, altares e púlpitos eram recobertos com espirais, flores, monstros e anjos, num jogo de cores e formas que, juntando pintura, escultura e arquitetura, provocava um grande impacto visual.


Assunção da Virgem(1722), dos irmãos Asam.
Mosteiro de Rohr (Alemanha).


Davi, de BerniniBarroco no Brasil

Na metade do século XVIII, o Barroco já tinha entrado em declínio na Europa.
Mas em algumas regiões do Brasil, especialmente em Minas Gerais, ele teve um último desenvolvimento, estimulado pela riqueza gerada pela descoberta de ouro e pedras preciosas.

 

Vista geral do grupo de profetas esculpido por Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730?-1814).
Basílica do Bom Jesus de Matosinho, em
Congonhas do Campo (MG).


O artista mais original do barroco brasileiro foi Antônio Francisco Lisboa,
o Aleijadinho (1730-1814). Arquiteto, entalhador e escultor, as obras do Aleijadinho constituem, até hoje, um dos pontos mais altos da arte brasileira.
Barroco Mineiro

        
        Profeta Daniel, de Aleijadinho                         

 O barroco chega à América Latina, especialmente ao Brasil, com os missionários jesuítas, que trazem o novo estilo como instrumento de doutrinação cristã.

 Os primeiros templos surgem como uma transplantação cultural, que se utiliza de modelos arquitetônicos e de peças construtivas e decorativas trazidas diretamente de Portugal.
Com a descoberta do ouro, estende-se por todo o país o gosto pelo barroco.

 Durante o século XVIII, quando a Europa experimenta as concepções artísticas do Neoclassicismo, a arte colonial mineira resiste às inovações, mantendo um barroco tardio mas singular.

 A distância do litoral e as dificuldades de importação de materiais e técnicas construtivas vão dar ao barroco de Minas Gerais um caráter peculiar, que possibilita a criação de uma arte diferenciada, marcada pelo regionalismo. A conformação urbana das vilas mineiras e a fé intimista, em que cada fiel se relaciona com seu santo protetor, viabilizam uma forma de expressão única, que se define como um gosto artístico e, mais do que isso, como um estilo de vida — um modo de ver, sentir e vivenciar a arte e a fé.

Jesus, de Aleijadinho

 Barroco Baiano

 Missionário ao primeiro período das construções na Bahia, compreendido entre 1549 e 1655. Inteiramente influenciado por modelos portugueses, foi uma arquitetura de pequena escala, sóbria, utilitária, representando uma simplificação da Renascença Portuguesa. Nela destacam-se as naves únicas, retangulares, com um retângulo menor, formando a capela-mor, um quarto lateral serve de sacristia.

 Fachadas simples, com uso de pilastras dóricas, encimadas por frontões triangulares, porta única com moldura em pedra, acima duas janelas quadradas ladeiam um nicho arqueado, uma abertura circular no frontão e, à esquerda pequena torre com campanário baixo. Esta descrição de Smith engloba, com pequenas variações, quase todas as primitivas construções brasileiras. Na arquitetura civil repete-se a sobriedade dos modelos, atenuada pelos balcões das fachadas, e as varandas das casas.

 Em meados do século XVII, havia declinado o surto ele grandes construções religiosas em Goa, na Índia, e em outras cidades do Império português. Voltou-se para o Ocidente o interesse da Metrópole. Tem início o patrocínio de grandes construções na Bahia, realizadas entre 1655 e 1718, fase denominada Monumental devido à grandeza das construções. Salvador, capital até 1763, tornou-se o centro do estilo metropolitano, inspirado diretamente em modelos de Lisboa.

 Na sociedade dos primeiros séculos, o ensino era monopolizado pelos religiosos. Isso contribuiu para fixar sua atitude diante de Deus e da cultura.

 Dominava aqui o catolicismo renovado pelo Concílio, e o clero intervinha em todas as etapas da existência: o estado civil era declarado pela Igreja batismo, casamento, comunhões pascoais, tudo era registrado pela Cúria. O trabalho era regulado pelas fases do ano litúrgico, cada cidade tinha um santo protetor.

A população variava segundo as estações: na época da moagem, saíam para o campo os senhores de engenho com séquito de capatazes, escravos, familiares, era a época das festas religiosas nas capelas dos engenhos No inverno de abril a junho, vinham à capital. Era a época das procissões.

 A propaganda da Contra-Reforma atuou para moldar uma comunidade onde predominavam os valores religiosos c, susteve, durante séculos, o caráter de uma sociedade rural em que ricos e pobres se rejubilavam no desejo comum de que a riqueza e brilho se acumulassem nas casas de Deus.

Na arquitetura dessa época o termo Barroco, na Bahia, tem acepção mais hitórica que psicológica. Foi transplantado para Salvador o Maneirismo português ele desenhos planos, fachadas sóbrias, decoração austera, num grau de dependência que não se repetiu em outras colônias na América: arquitetos, plantas, material, portadas de cantaria, vieram direto de Lisboa para construção de igrejas em Salvador.

 No final elo século XVI os jesuítas portugueses haviam criado um novo plano, que influenciou as igrejas seiscentistas brasileiras, particularmente aquelas elo período Monumental, na Bahia. A partir da segunda metade do século XVII, a arquitetura colonial brasileira torna-se uma projeção dos desenvolvimentos estilísticos das várias regiões de Portugal.

O monumento mais importante deste período é a antiga igreja Jesuíta de Salvador, agora Catedral, construída entre 1657 e 1672, reflete no plano e no conjunto o final da Renascença, melhor chamado agora de estilo Maneirista. Lá estão fórmulas em voga em Portugal no final do século XVI, atraso inevitável no edifício colonial, aconteceu o mesmo em colônias espanholas.

Os elementos dominantes na Catedral da Bahiaencontram semelhantes em Portugal e Goa. A nave, ladeada de capelas comunicantes, segue o esquema de S. Roque e de S. Vicente de Fora em Lisboa, e o mesmo foi utilizado em Portugal e meados do século XVII.

A divisão da fachada em pilastras começou com os Jesuítas em S. Roque continuou na sua segunda igreja em Santo Antão, é encontrada nas primeiras igrejas do Jesuítas do século XVIII do Porto, Coimbra e Santarém. As torres baixas são partes essenciais das igrejas de Coimbra e Porto, aí, também na igreja beneditina.São característicos do Maneirismo português o verticalismo e muitas divisões lineares.

O tratamento longitudinal das superfícies da Catedral da Bahia, separado dos conceitos plásticos e espaciais do Barroco italiano, está em harmonia com a tradição arquitetônica do mundo português de meados do século XVIII.

O relato destes detalhes comprova quão fora do pensamento barroco estava a consciência dos arquitetos portugueses da época, e de certo modo, o quanto estavam despreparados os construtores luso-brasileiros para abandonar a tradição linear do final da Renascença e utilizar a curva conscientemente e efetivamente como ponto de partida para um desempenho integrado.

Algum progresso foi alcançado com a chegada de Ludwig, em 1701,A versão Maneirista, com algumas variações, persistiu como estilo dominante até a primeira metade do século XVIII. Em Salvador: São Francisco (1710), fachada Maneirista, com frontão barroco.

Na igreja do Convento do Carmo (1709-20) repetiu-se a solução jesuítica com a supressão das três naves, a igreja salão ladeada por nichos rasos.

 Exceções a este plano temos as igrejas de São Bento, projetada em 1676, de traçado igual à de São Vicente, e a de Santa Tereza (1669-1686), que apresentam uma cúpula e lanterna sobre planos em cruzeiros.

De particular interesse é a planta da Igreja da Conceição de Praia (1739-1820), exemplo único na Bahia de um tipo já utilizado em Lisboa, na Igreja do Menino-Deus: torres em diagonal, nave em forma octogonal, em torno da qual se agrupam corredores e salas adjacentes. Observamos aí em pleno século XVIII, ainda uma estrutura sóbria, resistente ao Barroco.

 A decoração interior das igrejas baianas sofreu modificações no decorrer dos séculos. Na maioria dos casos, não corresponde à fachada; seguindo o hábito português de revestir o interior das igrejas com obras de talha em madeira, as igrejas ocupavam todo o seu espaço interno com obras que mostram a busca de efeitos dramáticos de luxo e esplendor. Algumas vezes, a decoração em talha é acompanhada por azulejos.

 A partir do século XV, a talha revelou em Portugal e posteriormente no Brasil grandes momentos de criatividade. Na Igreja dos Jesuítas de Salvador pode-se fazer um estudo de estilos de talha do Maneirismo ao rococó. Apesar do hábito de algumas Ordens e Irmandades retirarem retábulos para fazerem novos, de estilo mais "moderno", as igrejas dos franciscanos e dos jesuítas conservam as obras originais dos séculos XVII e XVIII.

Os retábulos procedem de modelos portugueses, do tipo arquitetônico de um só andar, a talha revela uma estrutura clara, com inovações que a afastam do classicismo, coordenadas por um grande arco. Os motivos ornamentais, distribuídos livremente, identificam além do caráter popular, a criatividade dos entalhadores baianos.

Além das citadas, conservam a talha original a Ordem Terceira de São Domingos, Ordem Terceira de São Francisco, Santa Teresa, São Bento, Sacristia da Igreja do Pilar e Boa Viagem. Completavam a decoração interna: púlpitos, órgãos, grades e outros trabalhos em talha.

As obras de talha c as imagens eram feitas nas mesmas oficinas, ficando difícil separar os autores. Em ambas predomina a influência ibérica, porém sabe-se que vieram do Sudão e dos Camarões, na África, hábeis escultores em marfim e madeira, cuja influência na arte baiana ainda não está suficientemente estudada.

Os escravos que vieram para a Bahia nos séculos XVI e XVII, originavam-se de costas da África ao sul do equador Congo e Angola. No século XVIII e primeira metade do século XIX, da região do Golfo de Benin. Verger, Pierre, Notícias da Bahia -1850, Ed. Corrupio, pg. 49,1981.

A pintura, até a segunda metade do século XVII, era feita em madeira, ou sobre pano, algumas emolduradas por talhas barrocas, num gênero que conviria melhor enquadrar no estilo Maneirista. Nossos pintores, sem formação acadêmica, trabalhavam sob a direção de um mestre.

Recebiam das Ordens e Irmandades religiosas as estampas que deviam reproduzir. Como exceção a este quadro, temos a presença de pintores de formação européia na Igreja dos Jesuítas. De maneira geral, os pintores baianos trabalharam a partir de estampas impressas na França, Itália, Holanda e Alemanha. O teto em perspectiva surgiu somente na segunda metade do século XVIII, com José Joaquim da Rocha.

O irmão jesuíta de origem francesa Carlos Belleville que viveu 10 anos na China, trouxe à Bahia o azul celeste, ainda desconhecido. Em 1726, os Terceiros de São Francisco trouxeram à Bahia o famoso pintor portuense José Pinhão de Matos. A pintura ilusionista do Barroco só chegou à Bahia no final do século XVIII, com José Joaquim Rocha. Ott, Carlos

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